demorei para sentar e escrever qualquer coisa aqui que fosse destinada a você - parte porque ainda não acredito que você voltou pra minha vida, parte porque sei que essa volta pode não ser definitiva.
não acho que agora seja trabalho de explicar como tudo recomeçou. mas eu quero sintetizar o que você tem me feito sentir e o que, afinal, eu vou fazer com tudo isso.
Greg,
Quando você terminou comigo (de forma desleal, injusta e cruel, eu diria), eu fiquei num limbo existencial. Eu já vinha de uma crise de depressão que aparentemente ninguém viu - pra todo mundo, aquela instabilidade emocional, o meu afastamento crescente das pessoas, minha raiva constante, eram características normais da minhas personalidade. Não são. Mas essa crise, que não vimos começar, nem percebemos se manifestar, me deixou uma criaturazinha muito vulnerável a você. Porque na leva da crise, eu te tornei minha segurança, meu suporte de ferro. Eu tinha uma certeza bruta que você era inabalavelmente quem me sustentaria nos dias difíceis.
Até que meus dias ficaram difíceis demais pra você. E não falo isso com peso no peito, me atribuindo culpa pelo fim desse namoro quase patético. Não, eu não fui a culpada. Nem você foi. Mas isso me lembra uma característica sua que me fez começar a escrever isso aqui: como você mesmo disse, você só dá valor pra aquilo que perde. Você não sabe manter o interesse quando as coisas ficam difíceis. Enquanto tudo é divertido, feliz, excitante, ótimo!, você está ali, presente, vivo. Mas eu não sou constantemente divertida, feliz, excitante - ninguém é.
Como parte de mim sempre vai ter um lado que só quer não acordar de manhã e emendar um dia no outro, dormindo, numa anulação da própria existência. Como isso poderia dar certo? Ou você muda uma característica quase fundadora do que você é, ou eu continuo anulado parte do que eu sou pra manter um relacionamento que, francamente, se nã consegue se manter sozinho, não deveria existir.
Antes, do seu lado, era quando eu me sentia mais confortável na minha própria pele. Fisicamente, psicologicamente. Mas eu não te conhecia, não sabia do que você suportaria ou não. Hoje, do seu lado, eu não sei ser eu mesma, tanto porque fico insegura quanto a minha posição na sua vida, quanto porque eu sei, agora, o que você suporta e isso não sou eu, não inteiramente.
Numa das poucas conversas que a gente teve desde que nos vimos de novo (porque a gente nem consegue conversar mais como antes!), você me falou as três coisas que mais gosta em mim. Coisas físicas. De acordo com você, meu nariz ganhava. Depois minha boca e meu peito. E você me perguntou as três coisas que eu mais gostava em você e que não poderia conter o óbvio, seus olhos azuis.
Eu gosto, Gregory, dos seus olhos azuis. Não porque eles são azuis, eu não poderia me importar menos com a cor dos olhos de alguém. Eu amo seus olhos porque toda vez que eles me encaram parece que você está me vendo pela primeira vez. Eu lembro, sempre, da mesma sensação de quando verdadeiramente te vi pela primeira vez (porque lapa não conta): é uma palpitação fraquinha do lado esquerdo do peito que deixa minha cabeça meio bamba e minha vista meio turva, como se tivesse bebido uns dedos de álcool. Tudo junto e de forma quase imperceptível, mas tá lá. Ser vista por você me deixa exposta, parece que você consegue ler o que eu penso e ver mais claramente meus defeitos. Então toda vez que estamos juntos eu espero que seja a ultima vez, porque você já me provou, antes, que eu não sou boa o suficiente pra você. Então, se eu sou essa coisa pequena que você consegue descartar tão fácil, o que estamos fazendo aqui ainda?
Pra resposta, eu diria também que gosto das suas mãos, não por alguma característica específica ou habilidade surpreendente. Eu gosto das suas mãos porque elas são a manifestação do seu carinho. Seja pelo toque ou pelo não toque, é através delas que sei o que você está pensando. E que gosto do seu peito, igualmente. Porque ele sempre me pareceu uma casa muito aconchegante.
Mas entende como o seu físico me atrai para além dele mesmo? Esse é o nosso problema. Eu não consigo te ver como um cara que eu conheci dois meses atrás numa festa da faculdade. Pra mim você sempre vai ser o Greg, meu ex, o cara que eu fui idiotamente apaixonada e que eu não consigo sentir menos. E isso, de ser a garota que casualmente você vê, não me faz bem porque eu não consigo aceitar ser diminuída a só isso depois de tudo que você me fez passar.
Não que tenha sido culpa sua minha depressão ou o quão despedaçada eu fiquei depois que você foi embora. Porque você não sabe, mas eu praticamente não existia. Eu vivia cada dia pensando terrivelmente de mim mesma pelo que pude ter feito pra te afastar tão bruscamente de mim. Minhas lágrimas demoraram para secar - o que aconteceu, eventualmente. Eu lembro especificamente do meu aniversário ano passado, quando eu tive uma crise choro que assustou todo mundo do meu estágio. Parecia que alguém tinha morrido. Mas pra mim era, pela primeira vez, a compreensão mais realista que a gente não estava mais junto, porque aquela data foi a que eu mais esperei em um ano para passar contigo. Depois eu descobri que você já estava com outra pessoa.
Então, novamente, Greg, eu te pergunto, o que estamos fazendo aqui agora? Porque você me destruiu muito pra eu aceitar qualquer coisa de você.