segunda-feira, 16 de maio de 2016

Depois, o Silêncio - Ganymédes José (Isso não é uma resenha)

Um infanto juvenil comum, que viveu alguns anos jogado pelo canto da minha casa, onde li sem esperar nada. A história é sobre uma família pobre, de quatro filhos, onde o terceiro é o protagonista dessa pequena história. João, ou João Trapalhão, como lhe chama o pai, é um menino feioso, ignorado pela mãe e caçoado pelas outras crianças (e até mesmo alguns adultos). Sua vida se resume em ir para colégio, onde é maltratado pela professora, que o repetiu de turma, e dar atenção a sua irmã Rosa.
Um dia, sua irmã mais velha, Graça, chega em casa com uma boneca que uma certa beata da cidade pediu que lhe arranjasse alguém que pudesse a vestir como miss Rio Grande do Sul para rifa da quermesse anual da cidade. Rosinha, que sonha em ter uma boneca, se encanta por ela e, junto com o irmão, tomam a missão como suas.
O quê mais me tocou nessa história é, mais uma vez, o final, algo de muito parecido que senti ao ler O Velho e o Mar - o sentimento de injustiça. Assim como Santiago se esforça de todas as maneiras, valendo até de sua própria vida, o velho não consegue superar as expectativas e acaba fracassando na sua missão, voltando pior do que já estava.
No livro de Ganymédes, algo parecido acontece. O menino, que já tem todo o azar da cidade voltado para ele, paga com a própria vida o desejo e a tentativa de ser algo diferente daquilo que todos achavam dele: inútil, fraco, fracassado. E o sentimento que ficou em mim quando terminei foi de que, novamente, o esforço nem sempre vale a pena. Sofrimento e trabalho duro não significam, necessariamente, que as coisas darão certo no final.
E realmente não deram.
De novo.

O Velho e o Mar - Ernest Hemingway (Isso não é uma resenha)

Não tenho muito o que dizer sobre esse livro, apenas quero registrar a leitura -
o livro me tocou, no final, como eu já não esperava acontecer. Uma mistura de sentimento de revolta com tristeza me deixou entre desapontada e deprimida com o final.
Torci pelo velho Santiago como quem torce para si mesmo ganhar uma luta. Com o mesmo orgulho.
Mas o final, depois de pensar, retratou nada mais, nada menos, que a vida. Pois é na vida, na realidade, que nos deparamos com situações onde temos todo o direito e oportunidade de ganhar, mas as coisas simplesmente dão errado. E por mais que haja esforço, individual, brutal, coletivo, a gente sai da guerra vencido. Perdemos não só coisas físicas, como o Santiago acabou por fim perdendo o peixe, como a dignidade.
Nem tudo dará certo - e nós temos que aprender a aceitar e ficar bem com isso.

domingo, 15 de maio de 2016

maratona-reguladora-de-sono
de 00:00 16/5 to 00:00 16/5
livros: terminar O Velho e O Mar - Hemingway 
           ler Depois, o Silêncio - Ganymédes José (38  101/101) 
           ler um artigo - profissões para mulheres e outros artigos feministas - Virginia Woolf 
           ler Infortúnios da Paixão - Patricia Wilson

quarta-feira, 11 de maio de 2016

mulher, objeto de cama e mesa - heloneida studart [ou: como uma resenha virou depoimento? (Isso não é uma resenha)]

Minha mãe me deu esse livro ano passado, quando a disse que produziria um projeto de pesquisa para faculdade com a temática sobre a desigualdade feminina nos cargos de poder. Se esse livro fala sobre isso? Um pouco.
O que esse livro realmente retrata é, em diversos pontos, sobre a desigualdade de tratamento e, portanto, de evolução da mulher e do homem. O ponto central é de que as mulheres não são incentivadas a trabalharem seus cérebros - como os homens são - porque estão condicionadas a vida doméstica no qual pouco são exigidas.
"A psicogenética (Piaget) demonstra que a idade mental da mulher doméstica varia em torno de 8 anos. Em resumo: a mulher é retardada. Levam-na a tratamento de reabilitação, como fazem aos excepcionais? Não. Oferecem-lhe o consagrado papel de rainha do lar. E lhe dizem que não mude." ( pág. 8)
Nesse trecho acima ela ressalta o condicionamento feminino ao retardo mental - não de forma doente, como se houvesse diferenças biológicas e fundamentais entre os cérebros feminino e masculino, mas de forma social. Com as diferentes formas de criação, a mulher cresce visando um único modelo de vida: aquele em que ela poderá exercer o papel de mãe, esposa, dona de casa. Aquela que tem como principal preocupação qual receita preparar para o jantar. E não porque esse é o real desejo feminino ditado pelos hormônios, neurônios, ou que quer que seja; mas porque esse é o papel feminino valorizado na sociedade. Essa é, assim é ditado pelos meios de comunicação, a forma de ser uma verdadeira mulher. Assim Heloneida dispõe em outro momento:
"O Dr. Jerome Kägan, psicólogo de Harvard, observou estranho procedimento nas crianças nascidas em São Marcos, vilarejo situado nas montanhas da Guatemala. Durante os primeiros anos de sua vida, elas são deixadas ao abandono, no escuro, nos cantos mais escondidos dos seus casebres. Ninguém lhes dirige a palavra, mesmo à hora de serem alimentadas. Ninguém as encoraja a qualquer participação na vida comunitária. Não são chamadas à ação para nada. Tornam-se apáticas, custam a aprender a falar ou a mover-se e com dois anos parecem pequenos fantasmas. 
O Dr. Kägan chamou a atenção dos cientistas para o fato, salientando que, se o cérebro não recebe os estímulos apropriados, entra em processo de retardamento, difícil de ser recuperado. 
A defasagem das mulheres em relação aos homens vem de processo parecido. Menina, deixam-na em casa, com a convivência mais ou menos infantilizada da mãe e da empregada. Só lhe despertam a atenção para insignificâncias: o vestidinho novo, o laço do cabelo, a pulseira da vizinha. Ninguém lhe acena com as aventuras da Ciência ou com as alegrias da inteligência. E é como se lhe dissessem, desde muito pequena: deixa para os machos a medicina, a geofísica, a astronáutica, a matemática pura, a arte - vai ser rainha do lar.
Quem pode culpar as mulheres de não serem racionais, de cultivarem uma espécie de confuso pensamento mágico, que as leva a confundir as histórias das telenovelas com a realidade? Se elas viveram sempre mais ou menos no escuro, como os bebês guatemaltecos, não é natural que se mostrem apáticas e sem discernimento, temerosas de tudo o que não compreendem - sobretudo as transformações históricas?"
A citação é longa mas vale a pena. Nela ela destaca esse condicionamento feminino desde o nascimento - e não é que faz sentido?
Na introdução, feita pelo Lauro de Oliveira Lima, ele descreve Heloneida como alguém que 'tem credenciais especialíssimas para escrever sobre mulher, apesar de não ser uma <feminista>, no sentido político do termo' e sim 'apenas uma mulher moderna que conseguiu resolver os problemas da situação feminina'. Ele a caracteriza como, além da jornalista e romancista que foi, como uma 'mãe exemplar'. Também a descreve como uma escritora que não tende a 'radicalizações' - e que seriam essas tais radicalizações?
No livro, Heloneida opina que o problema (da desigualdade) não está nos homens, e sim no sistema. Não são os homens que são opressores e sim o sistema. Com uma visão, chutaria eu, que marxista do feminismo e da desigualdade, ela diz que enquanto o nosso movimento se concentrar em queimas de sutiãs, nada teremos - nenhuma igualdade, nenhuma evolução. Existem assuntos mais sérios a serem tratados. E com isso eu concordo, pelo menos com essa última afirmação. Com isso, tendo eu a acreditar que o autor a classificou como uma escritora sem radicalizações exatamente por não 'culpar' os homens. O quê, aí sim, eu já não concordo.
Pros homens o feminismo, a evolução e a independência da mulher são aceitáveis até o momento em que as elas mexem no papel que as foram dadas anos atrás - ou seja, tudo bem trabalhar, ganhar o mesmo que os homens, serem produtoras de conhecimento, chefes de empresas, com vida sexual ativa e com roupas bem menos 'recatas' que as eram impostas DESDE QUE isso não as impeça de serem também donas de casa, mães, educadoras em tempo integral dos filhos, magras, bem maquiadas e com apetite sexual interminável.
Acrescentar? Tudo bem. Agora, editar o seu papel ao ponto em que seus 'deveres históricos' não mais existam nessa nova vida é inadmissível - e é aí que começa a guerra.
Termino com a melhor citação que pude retirar do livro.

"A mulher é um objeto sexual. Ao dizer isso, Betty Friedan recebeu, como resposta, uma onda de injúrias: Feia! Frustrada! Sem dúvida, a escritora americana é muito feia. Freud também era, Einstein tinha uma cara horrível, mas ninguém se recusou, nunca, a ouvir as suas ideias por causa disso. Não se está querendo comparar Betty Friedan com esses dois gênios, o que seria ridículo. Mas uma coisa é verdade: a mulher é o único ser racional que precisa abonar as suas teorias com um rosto bonito ou um belo par de pernas."



segunda-feira, 9 de maio de 2016

there's a thing called poem

there's a thing called freedom
that is something i never had
somenting i always wanted
something i can't stop missing
or wishing
or hoping for

there's a thing called freedom
that hunts me every night
that keeps my feelings overloaded
that keeps my body out of sight

there's a thing called freedom
a thing called self protection
or self respect
that are some things i could never exercise
some things that were taken from me
some things that -
like anything in my lifetime -
i could never fully understand
because love is the progenitor
the father of all good whises
of all good feelings

and there's a thing called love
that is something i never had

quinta-feira, 5 de maio de 2016

uma reflexão incompleta sobre a família carneiro

aprendi na faculdade de ciência política sobre conservadorismo - como não necessariamente é uma vontade de que as coisas permaneçam do jeito que estão (por mais que, como consequência, seja mais ou menos isso) e sim uma aversão à mudanças.
mudanças pra eles só se forem graduais e lentas - e quando eu digo lentas, eu estou sendo literal. que durem meses, talvez anos, mas que não aconteçam de uma semana para outra.
pensando na reação da minha família quando contei que mudaria de curso na faculdade, me dei conta do que eles realmente são: conservadores.
quando, lá no começo de 2015, disse que cursaria ciência política na unirio as reações não foram muito variadas; "mas você não queria direito?", "o que que é isso?", "que curso é esse?", "mas você vai trabalhar com político?", "você vai trabalhar no que?", "e tem emprego nisso?", "e direito? vai fazer também?", todas essas exclamações juntas às caras de espanto, descrença e deboche.
tudo bem, 2015 passou, troquei de curso, 2016 chegou e com isso minha vaga em direito - "ué, mas e ciência política?", "queria que você terminasse ciência política", "mas você sabe que a área de direito tá muito saturada, né?", "também? todo mundo é advogado hoje em dia", "ah, não, vai virar advogada de bandido agora?".
digo que são conservadores para não dizer que são invejosos acomodados que não conseguem suportar a falta de comodismo alheio. para não dizer que não conseguem suportar a minha felicidade, o meu sucesso.

segunda-feira, 2 de maio de 2016

adíos, 2014

acordei com uma mensagem de mateus - assim, do nada
na hora pensei que porra estava acontecendo
fiquei surpresa
a real é que eu não esperava mais ouvir desse cara nunca mais na minha vida
quase um ano depois, eu, a cada dia, deixava o passado mais passado
do pouco que me lembrava, eram sempre imagens desconexas do cara que eu queria que ele tivesse sido e não quem ele, de fato, foi - e eu sabia disso
cada dia uma desconexão diferente de quem um dia fomos
mas, agora, isso
demorei pra responder
um simples "tudo bem?" me deixou perdida
estaria eu voltando pro estado em que estive anos atrás?
perdida, mendigando atenção, dormindo aos prantos pelo cara que não via o quão especial eu era
falei com marcus
falei com victor
e respondi
graças, talvez, a deus, o whatsapp saiu do ar por 72 horas
3 dias sem respostas
será que terá tudo ficará antes dessas 72 horas?
ou algo me esperará 72 horas depois??
provavelmente, nada
nada esperarei
nada terei
se tem uma coisa que eu conheço bem é ser rejeitada e humilhada pelo cara que mais fui apaixonada
sei que não há nada para esperar dele
e, sei também, que eu não sou mais a danielly que fui

adendo 72h depois: o whatsapp não ficou tudo isso fora do ar, e eu conversei com ele na terça, quando voltou
meu orgulho vai pra danielly que não deu corda, que não deu assunto e não levou a conversa a diante
o assunto morreu
e ele também

Vini

Vini fala da uerj como se fosse o grande sábio veterano só porque era estudante da geografia de lá antes.
Tudo bem, ele conhece o prédio. Pode saber quais são os melhores banheiros e os bebedouros mais seguros, mas só. Ele pode ter amigos em direito e conhecer o corpo docente, mas ele não era aluno do curso. Ele conhece os professores, as disciplinas, os veteranos tanto quanto a  gente. Ele não é, e nunca foi, especial.
Só que parece que ele é o único que não enxerga isso. Fala como se fosse o conhecedor, trata as pessoas como se fossem ignorantes nos assuntos que ele tanto sabe - só porque frequentou o mesmo prédio que os estudantes de direito.
Então, aqui fica um recado: quando as aulas, de fato, começarem, não haverá ninguém melhor que eu. Ninguém terá notas melhores. Ninguém estudará mais.
Ninguém
Será
Melhor
Que eu.