terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Sobre não sair do lugar

Depressão pós melhor-amiga-namorando-e-vivendo-loucamente. Já sentiu? É como conseguir finalmente parar o tempo - mas só pra você. O resto do mundo continua correndo, sem nem respirar. Na verdade, parece que está tudo muito rápido, bem mais que antes. E você tá lá, vendo as vidas seguirem enquanto você pisca.
Parece bobagem e talvez seja.
Mas acho que talvez seja mesmo só cansaço de não mudar, de ter aversão a atitudes e ter medo de se pronunciar. Ter medo das consequências.
Já sentiu?

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

"Get busy living or get busy dying"


"De cada amor tu herdarás só o cinismo" - Arthur Dapieve (Isso não é uma resenha)

De calmaria à decadência: é como classifico esse livro. "De cada amor tu herdarás só o cinismo" do carioca Arthur Dapieve retrata a vida monótona e insossa de um premiado publicitário quarentão. Com um largo histórico matrimonial, Dino, protagonista do livro, já estava acostumado a calmaria quando re-conheceu Adelaide.
Com uma certa tendência a dramaticidade e um espírito livre que só alguém que mal saiu da adolescência poderia ter, a ruiva aparece no caminho do publicitário como um barco salva vidas. Como quem tinha acabado de escapar da morte, Dino vê na jovem estagiária uma oportunidade de recuperar o pouco do frescor que o tempo lhe tirou.
Entretanto, nada é como parece ser - e o mundo, afinal, é mesmo um moinho.
Preso na inconstância de Adelaide, Dino quebra com tudo que existia antes dela entrar na sua vida naquele show do Rock In Rio. A partir daí, tudo que parecia seguro se torna pesado demais pros ombros do publicitário que, envolvido pela juventude da estagiária, entra num verdadeiro furacão de sentimentos que ele acreditava não poder existir mais na sua vida.
Desfazer-se se planos, ideais e realidades nada mais era que um caminho mais rápido pros braços (ou diria as pernas?) de Adelaide. Mas seria tudo isso válido? Perder todo o real por algo puramente abstrato, pelo amor-tesão da ninfeta ruiva?
Simultaneamente, somos apresentados (junto a Dino) à história de não-tão-de-amor-assim de Antônio e Adelaide, a puta Laide. Identificando-se com o velho Antônio, Dino se encontra profundamente perdido no mar de sentimentos despertados pela ruiva. Afinal, quem era aquela desgraçada que mexeu tanto com os brios de um homem já feito?
O livro é incrivelmente bem escrito, dinâmico e pontuado com os acontecimentos certos nos momentos certos. Sem exageros, sem amor fodidamente exacerbado e autopiedade, Arthur Dapieve consegue, em pouco mais de duzentas páginas, representar quase de forma fidelíssima o retrato do homem subitamente apaixonado - ou com extrema vontade de foder.
Porque tesão, meus amigos, é o combustível principal do livro. Se posso demandar de palavras chaves que simplifiquem a essência da história, diria que: tesão, experiência e má interpretação cercam a vida do Dino nessas quinze semanas no qual o livro é narrado.
Entretanto, confesso que o final me decepcionou (e muito!). O que parecia caminhar para um desfecho memorável, concluiu-se quase que as pressas, como se uma editora muito filha da puta tivesse obrigado nosso querido autor a finalizar a história porque, senhor, nós precisamos vender!. Você, literalmente, fica estagnado - que porra foi essa que tu fez, Dapieve?
Mas mesmo com todas as (poucas) partes negativas, a história não-tão-de-amor-assim de Dino e Adelaide (e devo dizer do R.E.M., Joy Division, Neil Young etc.) rendeu ótimas horas de leitura, muito levantamento de opinião e certa construção de moralidade.
O que te faz se perguntar: você entraria numa história dessas?

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

O que esperamos da vida (ou o que a vida espera de nós)

 Eu não quero falar sobre o fracasso contínuo da minha alimentação nem dos meus estudos que continuam parados, não quero falar sobre minha solidão e muito menos dos meus problemas financeiros. Eu também não sei o que eu quero falar, mas eu quero. Quero ter o que dizer, quero verdade, quero malícia e inteligência.
 Hoje eu lembrei que um dia me disseram que, antes de me conhecer, me julgavam muito inteligente - ai mudaram de ideia. E isso estalou como um clique que fez com que quase tudo fizesse sentido: as pessoas se encantam pelo que eu pareço ser, mas quando conhecem, decepcionam-se.
 Acho que me preocupo demais com o que pareço ser em vez de simplesmente ser. Como o vegetarianismo, a ruivisse e os livros. Eu quero que seja assim que todos me vejam, e me esforço tanto nisso que quando chega a hora de aproveitar, eu encho o saco e arrasto aquelas escolhas como se fossem castigos. Porque é interessante. É atrativo. Mas chega uma hora que tudo isso pesa, entende? É como se você cansasse de trabalhar horas pra outro receber teu salário. É um esforço vazio.
 Entretanto, como parar de se preocupar com a embalagem? Eu não quero isso. O que eu quero é ser simplesmente interessante. Ser, sabe? Não parecer. Quero ser o tão cheia quanto pareço; tão inteira quanto acho que deveria. Parece que eu estou fingindo 24hrs por dia, 7 dias por semana. Eu, na verdade, sou outra pessoa. Tô sempre insegura por isso.
 Dani em casa é um moleque preguiçoso que não faz nada de interessante e procrastina o dia inteiro - mas Dani fora de casa é uma mulher interessantíssima, cheia de opinião e forte como uma rocha. Os modos são diferentes, as roupas, os cuidados, os pensamentos etc. Eu não consigo receber alguém na minha casa porque são mundos completamente diferentes, do mesmo jeito que não saio sem pensar com qual roupa/cabelo/maquiagem porque morro de medo de não ser compatível com a imagem que as pessoas alimentam de mim.
 É como se eu acumulasse títulos - e que disso fosse feita. Moldada de rótulos e pré imagens que me definem como ser humano. E entre todas essas definições possíveis eu me pergunto em quais eu deveria me encaixar. Devo ser uma séria advogada com gosto por jazz e música clássica ou uma escritora porra louca que vai do funk ao punk rock sem perder o sorriso no rosto?
 É muito mais do que aquele 'o que a sociedade quer que sejamos' e sim o que eu quero ser (mas não sei o que). Eu tenho medo de continuar dividida eternamente, nunca segura de nenhuma escolha. Nunca segura de quem eu sou. Sempre esses rótulos vazios sem pretensão alguma de chegar a algum lugar.