sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

"De cada amor tu herdarás só o cinismo" - Arthur Dapieve (Isso não é uma resenha)

De calmaria à decadência: é como classifico esse livro. "De cada amor tu herdarás só o cinismo" do carioca Arthur Dapieve retrata a vida monótona e insossa de um premiado publicitário quarentão. Com um largo histórico matrimonial, Dino, protagonista do livro, já estava acostumado a calmaria quando re-conheceu Adelaide.
Com uma certa tendência a dramaticidade e um espírito livre que só alguém que mal saiu da adolescência poderia ter, a ruiva aparece no caminho do publicitário como um barco salva vidas. Como quem tinha acabado de escapar da morte, Dino vê na jovem estagiária uma oportunidade de recuperar o pouco do frescor que o tempo lhe tirou.
Entretanto, nada é como parece ser - e o mundo, afinal, é mesmo um moinho.
Preso na inconstância de Adelaide, Dino quebra com tudo que existia antes dela entrar na sua vida naquele show do Rock In Rio. A partir daí, tudo que parecia seguro se torna pesado demais pros ombros do publicitário que, envolvido pela juventude da estagiária, entra num verdadeiro furacão de sentimentos que ele acreditava não poder existir mais na sua vida.
Desfazer-se se planos, ideais e realidades nada mais era que um caminho mais rápido pros braços (ou diria as pernas?) de Adelaide. Mas seria tudo isso válido? Perder todo o real por algo puramente abstrato, pelo amor-tesão da ninfeta ruiva?
Simultaneamente, somos apresentados (junto a Dino) à história de não-tão-de-amor-assim de Antônio e Adelaide, a puta Laide. Identificando-se com o velho Antônio, Dino se encontra profundamente perdido no mar de sentimentos despertados pela ruiva. Afinal, quem era aquela desgraçada que mexeu tanto com os brios de um homem já feito?
O livro é incrivelmente bem escrito, dinâmico e pontuado com os acontecimentos certos nos momentos certos. Sem exageros, sem amor fodidamente exacerbado e autopiedade, Arthur Dapieve consegue, em pouco mais de duzentas páginas, representar quase de forma fidelíssima o retrato do homem subitamente apaixonado - ou com extrema vontade de foder.
Porque tesão, meus amigos, é o combustível principal do livro. Se posso demandar de palavras chaves que simplifiquem a essência da história, diria que: tesão, experiência e má interpretação cercam a vida do Dino nessas quinze semanas no qual o livro é narrado.
Entretanto, confesso que o final me decepcionou (e muito!). O que parecia caminhar para um desfecho memorável, concluiu-se quase que as pressas, como se uma editora muito filha da puta tivesse obrigado nosso querido autor a finalizar a história porque, senhor, nós precisamos vender!. Você, literalmente, fica estagnado - que porra foi essa que tu fez, Dapieve?
Mas mesmo com todas as (poucas) partes negativas, a história não-tão-de-amor-assim de Dino e Adelaide (e devo dizer do R.E.M., Joy Division, Neil Young etc.) rendeu ótimas horas de leitura, muito levantamento de opinião e certa construção de moralidade.
O que te faz se perguntar: você entraria numa história dessas?

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