sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

O que esperamos da vida (ou o que a vida espera de nós)

 Eu não quero falar sobre o fracasso contínuo da minha alimentação nem dos meus estudos que continuam parados, não quero falar sobre minha solidão e muito menos dos meus problemas financeiros. Eu também não sei o que eu quero falar, mas eu quero. Quero ter o que dizer, quero verdade, quero malícia e inteligência.
 Hoje eu lembrei que um dia me disseram que, antes de me conhecer, me julgavam muito inteligente - ai mudaram de ideia. E isso estalou como um clique que fez com que quase tudo fizesse sentido: as pessoas se encantam pelo que eu pareço ser, mas quando conhecem, decepcionam-se.
 Acho que me preocupo demais com o que pareço ser em vez de simplesmente ser. Como o vegetarianismo, a ruivisse e os livros. Eu quero que seja assim que todos me vejam, e me esforço tanto nisso que quando chega a hora de aproveitar, eu encho o saco e arrasto aquelas escolhas como se fossem castigos. Porque é interessante. É atrativo. Mas chega uma hora que tudo isso pesa, entende? É como se você cansasse de trabalhar horas pra outro receber teu salário. É um esforço vazio.
 Entretanto, como parar de se preocupar com a embalagem? Eu não quero isso. O que eu quero é ser simplesmente interessante. Ser, sabe? Não parecer. Quero ser o tão cheia quanto pareço; tão inteira quanto acho que deveria. Parece que eu estou fingindo 24hrs por dia, 7 dias por semana. Eu, na verdade, sou outra pessoa. Tô sempre insegura por isso.
 Dani em casa é um moleque preguiçoso que não faz nada de interessante e procrastina o dia inteiro - mas Dani fora de casa é uma mulher interessantíssima, cheia de opinião e forte como uma rocha. Os modos são diferentes, as roupas, os cuidados, os pensamentos etc. Eu não consigo receber alguém na minha casa porque são mundos completamente diferentes, do mesmo jeito que não saio sem pensar com qual roupa/cabelo/maquiagem porque morro de medo de não ser compatível com a imagem que as pessoas alimentam de mim.
 É como se eu acumulasse títulos - e que disso fosse feita. Moldada de rótulos e pré imagens que me definem como ser humano. E entre todas essas definições possíveis eu me pergunto em quais eu deveria me encaixar. Devo ser uma séria advogada com gosto por jazz e música clássica ou uma escritora porra louca que vai do funk ao punk rock sem perder o sorriso no rosto?
 É muito mais do que aquele 'o que a sociedade quer que sejamos' e sim o que eu quero ser (mas não sei o que). Eu tenho medo de continuar dividida eternamente, nunca segura de nenhuma escolha. Nunca segura de quem eu sou. Sempre esses rótulos vazios sem pretensão alguma de chegar a algum lugar.

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