terça-feira, 10 de agosto de 2021

só Deus sabe

pela primeira vez em 10 anos, estou indo à igreja voluntariamente. tenho tido esse desejo há meses. nem sei se a igreja estará aberta, se terá missa. mas irei. tentarei, ao menos. eu preciso disso.


já tem alguns meses que eu me sinto atraída para a igreja católica, como nunca me senti. cabe lembrar aqui, que não possui a memória do meu corpo físico, que eu frequentei a igreja católica por toda minha infância, até o início da minha adolescência. parei de frequentar pela rebeldia própria da idade - passei a achar as ideias arcaicas, as pessoas hipócritas e o ambiente e valores propagados muito diferentes do que Deus, em tese, deveria pregar - amor com restrição; bondade limitada; por quê?


eu sabia que esse ano minha vida ia ser complicada. na minha cabeça, o óbvio: oab, monografia, faculdade, efetivação. não imaginei que mudaria de apartamento, moraria sozinha, me decepcionaria com o meu trabalho que, até então, era a  melhor parte da  minha vida, cortaria relações com amigos próximos e estaria, apenas em agosto, na segunda internação do meu pai.


e então, fui à igreja. chorei muito pensando no meu pai e  nas coisas que não quero que ele sinta, mas não me senti acuada como me senti na missa de sétimo dia da minha avó. só de  lembrar como me senti naquele dia já fico mexida - igreja católica e religião, de  forma geral, sempre representaram pra  mim o que senti intensamente na missa da minha avó: hipocrisia, superficialidade e mentira. pessoas que não deram valor  a  minha avó em vida, chorando sua morte. pessoas que não foram presentes, não deram amor, uma  palavra amiga, se fazendo das grandes vítimas da morte da minha avó. do que adianta chorar quando é tarde demais para mudar?


por consequência, sempre achei que se fosse novamente à igreja, esse seria o mesmo sentimento. não foi. eu me senti aliviada e diria, talvez, que acolhida. não de uma forma cinematográfica em que a mocinha, ao encontrar novamente sua espiritualidade, chora copiosamente pelo alívio de pertencer. mas de não sentir que o ambiente externava o pior das pessoas e que ali eu poderia encontrar refúgio para as minhas aflições.


não sei se e quando volto, ainda nem processei toda a experiência. tentei conversar com Deus - lá, aqui, mas não sai nada muito católico. perdi o hábito. não espero que alguém ouça minhas súplicas com o intuito de diminuí-las há muitos anos. falo com o externo como se fosse um amigo imaginário muito do sarcástico que ama ouvir minhas piadas sobre a  minha vida.


mas agradeço por ter ido. só espero que, dessa vez, ao menos, seja ouvida. de tudo que poderia pedir e que também são desejos justos, só peço, aqui como pedi lá, que meu pai não sofra. acima de tudo. e que se eu puder ser egoísta, que ele fique, ainda por muito tempo. pois ele é o amor da minha vida e eu não quero respirar sem ele.

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