domingo, 10 de maio de 2015

there's no good way of ending things, you know? 'cause it's ending

leio muito e teorizo muita coisa por aí; já disse que sou feminista, de centro esquerda, vegetariana, defensora da causa animal, altruísta emocional e muitas outras coisas. mas dentro de tudo isso, não consigo me encaixar, mesmo assim, em nada. sou liberal demais pra ser de esquerda, passiva demais pra ser vegetariana e defensora dos animais, e odeio militância. odeio dizer a alguém o que fazer da vida. odeio afirmar que minha visão e o meu jeito de viver são os melhores. porque, isso, é variável - varia de acordo com a sua visão de vida. 
é difícil ser feminista e heterossexual, porque saber que sua vida é menos sua que a de um homem (porque além de aparada pelo estado, ela é cercada pelo alcance do patriarcado) é não conseguir se equiparar emocionalmente também. é conviver com a estigma de sempre ser subestimada, inferiorizada e subjugada, simplesmente por ser mulher. e ter ainda que viver observando mulheres contra mulheres, mulheres que, por ignorância, ridicularizam um movimento tão essencial e que, sem ele, ela não teria a voz de poder criticar algo em primeiro lugar, é desgastante. 
mas dentro do feminismo eu não concordo com nenhuma vertente. ou melhor, não é que não concorde (eu até me identifico muito com o radfem), mas eu não consigo viver, literalmente, sabendo do que sou ou são capaz e do que posso ou não fazer e do que devo ou não abdicar pra tornar minha vida uma obra de luta e significância. 
eu não quero viver assim.
eu não quero abrir mão da 'liberdade sexual' porque, no final das contas, ela só serve ao homem, ao ponto em que meu prazer não é, na maioria das vezes, alcançado, e quando o é, não chega a servir a mim ao ponto em que serve de objetificação do corpo feminino ao homem. 
eu não quero odiar o sexo oposto, assim como não quero odiar ninguém. porque o ódio corrompe a alma, desgasta a vida, percorre cada canto da nossa mente procurando espaço pra se alojar e, assim, destruir cada pedaço de esperança e felicidade que podemos cultivar e oferecer ao outro.
eu não quero, acima de tudo, abrir mão do território conhecido, porque ele me foi imposto socialmente pelo patriarcado. eu sei que o meu 'gosto pessoal' provavelmente está incutido de imposições sexistas e injustas, mas é o que eu conheço. é o que se tornou confortável e, certas coisas, como a identificação de gênero, são o que me mantém num estado de lugar comum. 
eu não quero viver militando, impondo o que deveria ser ideal, porque ele não me faz feliz. eu sei que é o justo, numa sociedade em que mulheres morrem por serem mulheres, numa sociedade em que o esterótipo é tão cruel que o desencaixe transtorna e destrói emocional e fisicamente o ser humano, é justo lutar por um ideal. mas isso me desconstrói ao ponto que eu não sei mais quem eu sou. ao ponto em que eu, dani, não tenho vontade de viver. porque não me identifico.
não me identifico como uma criança negra sem representatividade numa loja de brinquedos. eu me desespero, eu me torno desesperançosa. porque a falta de identificação, a falta de ligação entre eu e outrem me desestabiliza e eu não quero mais socializar. 
não quero sair de casa. não quero opinar. 
não quero viver. 
não quero lutar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário